Entrevista Manuel Araújo


Pedro Barroso nasceu em Lisboa em 1950, mas vive desde os primeiros meses da sua vida em Riachos, uma pacata e simpática vila ribatejana.

Pedro Barroso, nos seus espectáculos, canta-nos os seus temas de sempre - a mulher, o mar, a natureza, os tipos humanos, a solidariedade, o amor e a portugalidade... em suma, espectáculos cultos, dignos, fortes e emotivos, com uma relação muito especial com a assistência.


Encontrámo-lo por aí, num dos muitos concertos de verão, ou “encontros de amigos” como ele gosta de lhe chamar. Foi em Terras de Bouro no Minho, onde teve uma recepção apoteótica, numa praça cheia, de uma assistência atenta e conhecedora da sua obra, que vibrava, a cada acorde da sua guitarra. 








O que pensa do actual panorama da música portuguesa ?

Os artistas não são seguramente menos importantes que os médicos, ou os políticos, para a construção do conceito de País. Se considerarmos a projecção do acto cultural no meio nacional, acharemos até que o Artista se substitui muitas vezes ao Estado em acções que, embora de âmbito profissional, são inequivocamente pedagógicas, educativas e divulgadoras de cultura.
Em muitas aldeias, por vezes, se não fosse a Festa Anual, paga do bolso dos próprios habitantes, não haveria outra oportunidade de ver espectáculo, cantores, músicos, instrumentos musicais, teatro, numa palavra - Festa. E as referências culturais seriam seguramente menores.



Depreende-se das suas palavras, que a situação não é das melhores.

Em Portugal, a situação tem vindo a degenerar-se, em termos de auto-estima nacional. As embaixadas e visitas de estado, levam empresários e poucos, raros e sempre os mesmos artistas.

Explique melhor...

O Manifesto incluso no meu site www.pedrobarroso.com, explica mais detalhadamente, este beco de desautorização e menos auto-estima em que nos fomos enfiando, desde há uns anos a esta parte.

Porque será ?Um enigma. Com soluções à vista, mas do foro judiciário. Tem-se tentado não investigar, mas ainda recentemente, as grandes multinacionais nos USA foram indiciadas por controle das rádios. Aqui, como habitualmente, o caso é complexo fere muitas susceptibilidades e não se avança...





E os Governos ?

Os governos proclamam solidariedade com os músicos, mas não existe classe mais descartável após os momentos apertados das eleições, em que sempre são necessários e úteis.
Em Portugal, o acesso à música é facilitado ?
O disco é cobrado com IVA como um luxo; os instrumentos musicais; o ensino da música etc. Um país culto e aberto às artes advoga uma facilitação total para que os seus filhos aprendam artes. Aqui é um esforço suplementar que os pais tem de fazer para que os seus filhos aprendam música, a retirar do orçamento familiar sem quaisquer subsídios...

Quem se ouve na rádio e televisão ?

Nas rádios passam-se invariavelmente os mesmos nomes.

Quem são ?

Sempre os mesmos não vou dizer quem - é só ouvir.... Estranho, não? Neste momento nem Zeca Afonso; nem Amália sequer. Na Antena Um, a programação é destinada ao que parece, a um target de 30 anos, música moderna, chamam-lhe. E depois, só passam discos de umas duas ou três editoras, porque será? Será que todos os restantes artistas portugueses desapareceram ou nunca existiram?






Já actuou em toda a Suíça ?

Lembro com grande saudade e muita ternura todas as deslocações á Suíça, mas até hoje, circunscrevi-me infelizmente a Zurique e Geneve. Tenho uma ligação muito forte com a Comunidade residente e fiz a inauguração do Café Literaire Fernando Pessoa . Possuo bons amigos que gostaria de rever. Alguns mandam-me prendas pessoais, palavras bonitas.

Chegou então a hora de voltar a actuar em terras helvéticas ?

Creio sim senhor que esteja na altura de voltar, para fazer o tal concerto maior, com a dignidade requerida. É tempo, dessa comunidade não se contentar com menos e fazer as coisas como deve ser - num Auditório , aberto a todos - suíços, portugueses, ou quem quer que seja... - só assim abrimos, divulgamos e dignificamos as portas da nossa cultura maior. Fico por enquanto a aguardar...





Encontro de amigos no camarim.





Fonte -  Manuel Araújo     




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