O Teatro Tivoli BBVA em Lisboa
esgotou ontem à noite para ver e ouvir o músico Pedro Barroso que regressou aos
palcos três anos depois, período no qual enfrentou gravíssimos problemas de
saúde. Em palco mostrou a qualidade de sempre, não se notando qualquer mazela
dos problemas de saúde na sua qualidade artística.
No dia em que Mário Soares faleceu, algo que “me provocou um dor
muito grande, peço desculpa se firo alguém”, Pedro Barroso regressou aos palcos
para a celebração da vida e da música. O Teatro Tivoli BBVA esgotou e foi
invadido pela emoção e pelo amor. Assim que Pedro Barroso subiu a palco, logo a
seguir aos músicos que o acompanharam, o público saltou como se tivesse uma
mola na cadeira para o aplaudir prolongada e efusivamente.
Pedro Barroso cujo os últimos trabalhos foram o disco “Cantos da
Paixão e da Revolta” e o livro “Memória Inútil de Mim” em 2012, o CD+DVD
“Memória do Futuro” e o disco “Palavras ao Vento” em 2014, numa altura em que
já se encontrava debilitado e como ontem referiu serviu de auguro ao cabo das
tormentas pelo qual passou. Felizmente está de regresso aos bons velhos tempos,
que na sua voz são sempre novos.
À mítica sala lisboeta levou um
alinhamento com mais de 20 canções e um espectáculo que ultrapassou as 2:30.
Ninguém se cansou, mais temas houvesse e o público ali continuaria num desfiar
de memórias, dele e que a partir de ontem são também de todos os que ali
marcaram presença. Porque Pedro Barroso consegue com um humor inteligentíssimo
e uma elegância na oratória transmitir constantemente emoções.
“Cantarei” deu inicio forte e emotivo ao espectáculo e serviu para
agarrar o público que já antes de o espectáculo começar se mostrava ávido de
voltar a ouvir um dos mais importantes e belíssimos músicos portugueses (o
reconhecimento não acompanha(ou) tudo o que já fez).
“Calma,
não matem já o homem de emoção. Obrigado por terem vindo de todo o país”
começou por dizer, acrescentando que nesta noite se celebraria “a vida. Uma
celebração do canto como forma de obter a liberdade”.
Para cada tema, Pedro Barroso ia contando uma estória (e tantas
que deverá ter, afinal são 50 anos de canções, mais alguns de vida e de
talento). O público escutava-o atentamente e de quando em vez lançava-lhe
piropos e elogios, numa interacção bonita e mais uma vez emotiva (a repetição
das palavras emoção/emotiva é quase obrigatória depois de todo o amor vivido no
Tivoli durante o espectáculo).
“Bonita” falou da beleza das
pessoas (a beleza interior), o fado marcou presença com “Fado Quitério” e “Fado
da tua boca” antes de chegar o momento de “Palavras ao Vento” que deu titulo ao
seu último disco e no qual recordou os momentos em que enfrentou os problemas
de saúde que o afectaram nos últimos anos.
Com o tempo a voar, canções a emocionar e Pedro Barroso
demonstrando que as pequenas coisas da vida são as que devemos aproveitar, as
canções surgiam com a naturalidade de quem tem um dom de emocionar os outros
com o seu canto, a sua escrita e as suas composições (segundo o músico, já fez
mais de 490 canções ao longo da sua carreira e teve uma dificuldade hercúlea
para escolher o repertório para esta noite), fomos ouvindo “Cheiro”, “Lua”,
“Música Música” ou “Agora nunca é tarde”.
Mas havia uma surpresa na manga (ou
neste caso atrás do palco). Pedro Barroso levou como convidado o seu filho,
Nuno Barroso. Mais do que seu filho, Nuno Barroso é um músico de mão cheia e
demonstrou que herdou do pai os genes do talento e da sensibilidade artística.
A dupla Barroso esteve junta em palco para “Dá-me uma gota de ti” e “Menina dos
olhos de água”.
“Maria Montanha” e “Viva quem canta” antecederam “Pedra Filosofal”
com a qual terminaria o concerto… se o público deixasse. Mas não! O público
queria mais, a emoção apoderava-se de Pedro Barroso e a festa da celebração da
vida continuou.
Importante destacar ainda os belíssimos músicos
que acompanharam Pedro Barroso em palco: Ana Alves no bandolim e coros, David
Zagalo nos teclados, Manuel Rocha no violino, Miguel Carreira no acordeão e
viola, Susana Castro Santos e Luís Sá Pessoa nos violoncelos, além claro de
Pedro Barroso na viola, piano e direcção musical. O convidado Nuno Barroso
mostrou-se virtuoso no piano.
“Liberdade” teve a sua estreia ontem no Tivoli e
integrará o LP que o músico começará a gravar dentro de quinze dias. Este tema
serviu para homenagear Mário Soares. “Viriato” deu por terminado o espectáculo,
no qual o público riu, chorou, aplaudiu e aprendeu o verdadeiro sentido da vida
e das emoções. Bravo Pedro Barroso!
Fonte – Infocul
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